Parte dos poucos

Em um ato histórico, um dia depois do primeiro turno das eleições presidenciais no Brasil, eis que fui à academia arrastada. Check-in realizado às 20:36. 200º. Ok, desde 07/05/2020. Not so good.

Eis que me deparo com o seguinte post do Flávio Augusto: 

Todos podem, mas é para poucos, porque poucos querem, de fato. Dos que querem, poucos se dispõem a pagar o preço. Dos que pagam o preço, poucos perseveram até o fim. Dos que chegam até o fim do caminho, muitos se acomodam e retrocedem ao estágio inicial. Ou seja, é para bem poucos mesmo. Acostume-se.

E, para continuar (não variar), estou lendo Siga em Frente, do Austin Kleon, e ontem parei na frase "a maneira como passamos o dia é, claro, a maneira como passamos a vida", de Annie Dillard.

Depois disso, lembro-me de ter fechado os olhos, orado em súplica e chorado. De saudade. De sentimento pela distância. De noção do tempo. Esse não volta, só passa. Anda pra frente.

Na academia, toca o eterno CBJr. "Só o amor constrói pontes indestrutíveis."

Tudo tem um preço, e a lógica tem de ser exatamente essa. Não porque não existe almoço grátis, embora inclusive, mas porque a moeda de troca mais valiosa não tem retorno em sua mesma medida. Ao gastar o tempo, você não o obtém de volta. Jamais. Você apenas o troca - por algo bom, por algo ruim, por algo inerte. É para poucos.

É para poucos perceber o valor em trocar o tempo por boas conversas, risadas soltas, boas companhias, sentimentos bons, sentimentos leves, carinho - mesmo que em forma de atrito. Aquele gesto de preocupação que para o jovem é chatice, mas para a mãe é o maior e mais genuíno sentimento de todos. Cuidado. Amparo. Afeto.

Escolhas. Custo de oportunidade. Perseverança. É por mensagem que escrevo que estou aqui para o que precisar, mas o abraço apertado e talvez a lágrima que fosse compartilhada fica à espera do tempo que passe e me leve de volta para lá. Estar junto, estar perto, estar lá.

Bruno Perini hoje mesmo postou também: "Apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida" do Sêneca.

Hoje eu sei que vivo meus dias, ainda que às vezes me pergunte se estou apenas existindo (especialmente quando me deparo com algum meme na internet). Melhor dizendo, tendo a dizer que sei que vivo meus dias. Penso no ontem, penso no amanhã, e de um jeito meio falho estou presente no hoje. Falho, porque meu hoje não é só aqui. É lá. Minha vida não é só aqui, é lá. Minhas forças não são só aqui, são lá. Do bom dia ao boa noite, dos dias em que quero o celular apenas para ver as horas, mesmo nos dias mais corridos, é para lá que também vão meus pensamentos.

Não tenho dúvidas de que é para poucos. E mais certeza tenho ainda de que minha família é, para mim, tudo. Que Deus e tudo que construí até aqui graças a eles me deem forças para amadurecer e seguir, enquanto o tempo insistir em passar, e cada dia que em mim vai ficar apenas ir - e não voltar.

Em frente!